segunda-feira, 26 de julho de 2010

Confissões de um Salvo pela Graça

Tudo começou em Dez/2001. Eu ia para o trabalho de carro logo pela manhã, e comecei a refletir sobre o tema: "Vontade de Deus". Pensava assim: Por que quando falamos, que seja feita a vontade de Deus, falamos sempre de maneira pejorativa, ou seja, quando as coisas não saem do jeito que queremos usamos a expressão: "Que seja feita a vontade de Deus". Minha inquietação era sobre o porquê dizemos isso, se a vontade de Deus, teologicamente falando, é sempre a melhor (Rm 12:2). Lembro-me que essa foi uma das minhas primeiras questões teológicas.

Todos os dias escutava um programa de rádio da Igreja Renascer, apresentado pelo Duda Baguera. À tarde ouvia um outro programa chamado: "Razão para Viver" na rádio 105.7. Tudo era novo para mim, uma vez que eu pertencia a Igreja Congregação Cristã no Brasil (CCB). Eu sempre aprendi que o crente de verdade era aquele que sofria, que estava sempre em provações, triste, enfim, ser crente para mim era sinonimo de sofrimento, de afastamento total do "mundo". Qualquer atividade mundana era pecado, assistir tv, ir ao cinema, à praia, etc. O crente ideial era aquele que ia a Igreja todos os dias, que vive alerta e preocupado em não perder sua salvação, quer para ser salvo era necessário ser fiel até à morte. Eu havia sido criado na típica doutrina do pentecostalismo clássico. Mas aquilo que eu ouvia no programa do Duda era algo muito diferente, o crente não devia viver sempre sofrendo, Deus queria o melhor para seus filhos e eles deveriam crer nisso. Essa nova teologia foi especialmente importante para mim, pois passava algumas dificuldades no meu trabalho como falta de reconhecimento e "perseguição", e pensava que deveria suportar tudo calado, esperando até que Deus aparecesse e me desse a "vitória", me colocasse por "cabeça" e não por "cauda". Assim, a partir dessa nova visão, comecei a procurar outro emprego e rapidamente encontrei um melhor.

Certo dia, nesse novo emprego, um jovem da Assembleia de Deus veio me oferecer uma Biblia de Estudo que estava vendendo. "Bíblia de Estudo", pensei: o que era isso?, não tinha a menor idéia do que se tratava, fui criado acreditando que a Biblia não era para ser estudada, era apenas para ser lida em porções, mas nunca sistematicamente. A Bíblia para mim não era a Palavra de Deus, a Palavra de Deus era aquela pregada pelo ministro (ancião) da minha Igreja. Rapidamente adiquiri a Bíblia do jovem. Santa Bíblia! A tal Bíblia de Estudo é a Bíblia de Estudo Esperança, da Sociedade Bíblica do Brasil, as notas são do Luiz Saião e prefácio do Pr. Russell Shedd.

Em Jun/2002 tirei um mês de férias e passei a devorá-la. Seu grande mérito é ser simples. Composta por 365 perguntas e repostas dividas por temas como: Salvação; Cristo; Vida Eterna etc. Passei a estudar pergunta a pergunta. Quando me deparei com a pergunta de nº 106 algo muito forte aconteceu, foi como se escamas tivessem caído dos meus olhos, como se até o momento eu fora cego espiritualmente e passasse a enxergar. A pergunta era a seguinte:

Pergunta 106 - Tema Salvação: "O que devemos fazer para merecer a salvação?"

Resposta: Efésios 2:8 - "Para alcançarmos a vida eterna, isto é, termos o direito de vivermos para sempre com Deus precisamos de salvação. E, ao contrário do que poderíamos imaginar, não há nada que possamos fazer para merecer a salvação. A salvação é dada de graça, por meio da fé. Trata-se de um presente de Deus para todo o que crê em Cristo como salvador pessoal. Como vemos aqui, ninguem pode ser salvo pelas obras..."

Poderia uma verdade ser tão simples, tão bela, tão clara, sempre esteve alí, "perto dos olhos, mas longe do coração". Nesse mês de férias intensifiquei os estudos, passava as noites orando e estudando a Bíblia. Dessa maneira o Espírito Santo foi me iluminando e me mostrando outras pérolas de grande valor. Aprendi também sobre a segurança da salvação (Jo.10:28-29); que a vida eterna já recebemos quando cremos em Cristo (Jo.3:36); que o crente não entrará em julgamento no que concerne a sua salvação (Jo.5:24). Maravilhosa foi a maneira de agir do Espírito, destruíndo os sofismas em que eu acreditava e me concedendo a fé para crer de corpo e alma nessas novas verdades, novas pelo menos para mim...

Quando retornei das férias era uma nova pessoa. Arrisco-me a dizer que depois de ter nascido e crescido em uma Igreja, orar, "ler a Bíblia", frequentar os cultos 5 vezes por semana, eu havia realmente me convertido, no sentido ontológico da palavra. No trabalho contei a experiência a um amigo, o Ricardo, presbiteriano-calvinista convicto, nós sempre conversávamos sobre assuntos bíblicos na hora do almoço. Lembro-me de ter comentado sobre a maravilha que era saber que somos salvos pela graça, independente das obras ou da nossa fidelidade, que a salvação era um presente, um dom, uma dádiva, sua reação foi um misto de espanto e felicidade.

A partir daí passei a ouvir e assistir mais e mais programas evangélicos, a pesquisar sites de estudos bíblicos, a ouvir pregações, enfim a me inteirar cada vez mais dos assuntos teológicos. Nessa época tive a certeza de que queria fazer faculdade de teologia, mas estava enrolado com uma faculdade de contabilidade que não havia terminado. Não via a hora de terminar a contabilidade para começar a teologia...

No final de 2002 tive uma experiência que buscava desde criança, aquilo que os pentecostais clássicos chamam de: "Batismo no/com o Espírito Santo", foi algo realmente incrível, indizível. Hoje entendo isso mais como experiência pessoal com Deus, um "enchimento" do que propriamente dito como um Batismo, pois todos aqueles que foram batizados no Filho, foram também batizados no Pai e no Espírito. Caso contrário aqueles que não tiveram essa experiência não receberam o Espírito?, não creio assim, mas respeito o contrário. (continua)....